O director-executivo da Amnistia Internacional Portugal, Pedro Neto, diz que Angola “tem de ser um país melhor”. Tem e pode, bastando para isso correr com os donos do reino (o MPLA desde 1975) que estão no Poder para se servir e não para servir. Mas como a comunidade internacional (ONU, CPLP, UA, UE etc.) prefere que Angola (como África em geral) sejam apenas uma ténue democracia e um ainda mais um ténue Estado de Direito…
Na vigília promovida, em Lisboa, pela Amnistia Internacional Portugal junto da embaixada (do MPLA) contra a repressão policial levada a cabo em Angola, Pedro Neto disse que “é preciso que Angola se possa cumprir de facto. É da faísca do confronto de ideias que pode nascer a luz de um país melhor. E é isto que a diversidade e os direitos humanos defendem”.
A vigília que decorreu ontem e que juntou dezenas de pessoas, foi convocada pela Amnistia Internacional Portugal para “denunciar a violência de Estado em Angola, porque ela acontece a vários níveis. A brutalidade policial é uma delas e é mais visível na rua”.
“Mas depois há também outro tipo de intimidações e de manobras de intimidação, em que muitos activistas e manifestantes, livres-pensadores, são chamados às autoridades para se justificar, por exemplo, publicações nas suas redes sociais pessoais”, detalhou.
A Amnistia Internacional (AI) Portugal lançou na vigília uma petição para o “fim ao uso da força excessiva, desproporcionada e letal” pelas forças de segurança angolanas (leia-se Polícia dita Nacional mas que é, exclusivamente, do MPLA), no exercício da liberdade de expressão e de reunião.
Paulo Fontes, director de campanhas da AI Portugal leu os nomes dos angolanos, alguns menores de idade, vítimas mortais às mãos das forças de segurança angolanas.
Questionado se é possível comparar a repressão das forças de segurança do MPLA com a situação vivida durante o regime do anterior Presidente, José Eduardo dos Santos, Pedro Neto respondeu que não é possível comprar.
“Não sei dizer, comparativamente, o que é que é pior ou melhor. Aquilo que percebemos é que João Lourenço, quando tomou posse, deu um sinal de esperança para a liberdade de expressão e para a liberdade de manifestação e de pensamento. Pensávamos que íamos ter diversidade de pensamento e de expressão em Angola, mas nada disso está a acontecer. Continua tudo igual. Os activistas continuam a sofrer. Até mesmo pessoas que não são activistas. Na pandemia houve até crianças que foram assassinadas na rua pela brutalidade policial e que não são activistas. Saíram à rua para ir fazer recados”, denunciou.
Presente na vigília, o activista angolano Kenidi Domingos disse que o objectivo da iniciativa era denunciar “o nível de repressão policial em Angola, que tem aumentado a cada ano”.
Além de cartazes a denunciar a repressão policial em Angola, os participantes na vigília acenderam dezenas de velas para recordar as vítimas.
No domingo, em declarações à Lusa, Paulo Fontes salientou que a organização não-governamental “não vai parar este tipo de iniciativas”.
“E não pararemos enquanto não for reposta a liberdade de expressão, a liberdade de reunião e os direitos humanos em geral em Angola e em todo o mundo, mas neste caso em concreto, em Angola”, reiterou.
Na ocasião, Paulo Fontes lamentou que em Angola os manifestantes, os activistas, “todas as pessoas que são uma voz dissidente são vistos pelas autoridades angolanas como incómodos e repetidamente são tratados como criminosos, quando isto não é verdade”. “É, ao contrário”, vincou.
Pela sua relevância, publicanos o texto “A promessa por cumprir”, de Pedro Neto, publicado pela TSF no passado dia 8:
«”A promessa por cumprir.” Creio que é a frase que mais se ouve quando a conversa é sobre Angola.
Um país tão rico, tão abençoado. Podia ser a América de África. Um país que tem tanto potencial. São todas expressões muito comuns de se ouvir, quando se fala de Angola com uma certa esperança.
Esta promessa por cumprir é o que muitos dizem sobre este país que têm no coração.
Angola vive uma crise profunda. Uma crise social, económica, política e climática. Esta crise sem soluções de quem as tem de trazer, originou uma vaga de protestos enorme contra o custo de vida naquele país. Os angolanos sabem o que vale o seu país – onde nasceram e vivem – e querem mais, esperam mais, esperam o que é justo: ter uma vida digna.
No entanto, a falta de emprego e outras necessidades básicas por cumprir e que são fundamentais, como o acesso à água ou a serviços de saúde, por exemplo, continuam por se cumprir na maior parte do país.
A reboque da pandemia, o governo angolano em exercício restringiu vários direitos, entra os quais o direito de reunião e manifestação pacífica.
Com o fim da pandemia, a liberdade de expressão e de manifestação não voltou ao normal que afinal, nunca existiu em angola. E as promessas de isso acontecer com João Lourenço, estão ainda por cumprir.
Pelo contrário, tem-se verificado naquele país um aumento exponencial de repressão, perseguição e brutalidade policial a quem ousa manifestar-se ou criticar o poder vigente.
Há vários manifestantes e activistas presos neste momento. Outros recebem ameaças de morte e intimidações para os obrigar a remeterem-se ao silêncio e a não falarem de uma Angola melhor para todos os seus cidadãos e cidadãs.»
Folha 8 com Lusa